quarta-feira, 15 de junho de 2011

Evangelhos Apócrifos , serão verdadeiros, devaneios dos homens ,mentiras demoniacas


Evangelhos Apócrifos segudo judas e maria madalena
   
Nunca se falou tanto dos evangelhos apócrifos como neste tempo em que vivemos. Tamanha disseminação das mensagens encontradas nesses textos me leva ao convencimento de que é chegada a época de se desvendar as verdades que por séculos ficaram encobertas.
A Bíblia não é a mensagem única de Deus, não contempla em si todas as verdades religiosas nem históricas, uma vez que existiram bem mais evangelhos sobre o cristianismo do que aqueles colocados na Bíblia (Marcos, João, Lucas e Mateus).
Foi por volta do ano 327 depois de Cristo, que o Imperador Romano Constantino, a partir do Concílio de Nicéia, copilou as principais tendências religiosas existente nos três primeiros, fazendo nascer daí o cristianismo tal como conhecemos, quando foram escolhidos os textos para comporem a Bíblia, tendo ficado de fora, ao que se sabe, pelo menos sessenta evangelhos cristãos.
A decisão de Constantino foi mais política que religiosa, pois ele sabia que, copilando as principais vertentes religiosas da época, acabaria por unir todo império romano, que se encontrava por demais dividido, situação que vinha pondo em risco o seu poder imperial. 
Assim, da corrente religiosa que tinha Mitra como deus pagão, foi inspirada a idéia da morte em sacrifício e da ressurreição ao terceiro dia, tal como era contada a história de Mitra. Da vertente religiosa que tinha Isis como deusa, Constantino e o Concílio de Nicéia retiraram a idéia da virgem Maria e a idealização da família sagrada (José, Maria e Jesus). Essa família, tal como idealizada, tem sido claramente contestada por historiadores das religiões, uma vez que José possuía filhos de seu primeiro casamento e também acabou tendo outros filhos com Maria, além de Jesus. 
E os outros evangelhos apócrifos? Que destinos lhes foram dados? Sabe-se que ocorreu verdadeira caça às bruxas. Muitos foram queimados ou perdidos por se oporem frontalmente às bases do cristianismo colocadas na Bíblia. O decreto Gelasiano assinado pelo Papa Gelásio, falecido em 496, continha uma lista de sessenta livros apócrifos do Segundo Testamento, que deveriam ser evitados pelos cristãos. Mais da metade deles foi parar, infelizmente, na fogueira. Daí a importância de se encontrar os evangelhos como o de Maria Madalena e o de Judas,  resguardados, certamente por forças espirituais, milagrosamente escondidos, para no futuro serem, enfim, revelados a todos, tal como vem ocorrido. 
O ano de 2006 surpreendeu a todos os cristãos com a divulgação para todo o planeta, pela emissora de televisão a cabo “National Geographic”, do evangelho segundo Judas, após ter este ficado desaparecido por cerca de 1700 anos. A sua existência já havia sido confirmada, historicamente, por Irineu, primeiro bispo de Lyon, na metade do século  II, quando o denunciou  por heresias. 
Contendo 26 páginas em papiro, transcrito de um texto ainda mais antigo, o evangelho está escrito em dialeto copta (Egito antigo); tendo sido autenticado depois de rigorosos testes, por especialistas, como sendo oriundo do século III. Acredita-se que o Evangelho foi copiado por volta de 300 d.C. e encadernado em couro, ficando desaparecido desde então. Em 1970 foi descoberto no deserto egípcio de El Minya. 
Passado nas mãos de diversos vendedores de antiguidades, acabou chegando à Europa, e, mais tarde, aos Estados Unidos, permanecendo no cofre de um banco de Long Island por cerca de 16 anos, o que levou a sua deterioração em cerca de trinta por cento. Em 2000, foi comprado por um antiquário suíço, que preocupado com a sua deterioração, entregou-o, em fevereiro de 2001, à fundação suíça Maecenas Foundation for Anciente Art, com o objetivo de que ele fosse devidamente preservado e traduzido. Após a restauração, a análise e tradução ficaram a cargo do professor Rudolf Kasser, da Universidade de Genebra. O seu destino agora deverá ser o museu do Cairo. 
Contestando a versão dos quatro Evangelhos bíblicos, o de Judas evidencia que não houve traição dele a Jesus como propalado, mas que, a atitude de Judas de entregá-Lo aos Romanos foi em decorrência de pedido feito pelo próprio Jesus. Judas deveria agir dessa forma para que o espírito de Jesus fosse libertado da vestimenta corpórea, conforme consta em uma passagem do evangelho: 
Você superará todos eles. Você sacrificará o homem que me cobriu.   
E Judas “traiu”, entregando Jesus aos soldados imperiais com um beijo, como se pode ver, a seguir, na pintura de Michelangelo Caravaggio, criada em 1602. 

Imagem retirada da Revista Veja edição 405 – 20/02/06
Essa versão da história contada no evangelho segundo Judas de que a traição foi uma representação pedida por Jesus pode, a princípio, parecer sem sentido; entretanto, certo é que Jesus detinha em seu íntimo clara missão a ser cumprida. Além disso, é preciso considerar que o Jesus dos evangelhos apócrifos se apresenta bem distinto daquele inserto na Bíblia. 
O Jesus esotérico dos textos não bíblicos transmitia aos seus discípulos  conhecimentos mais complexos que aqueles divulgados pelo cristianismo. Como exemplo de ensinamentos mais densos, veja a surpreendente resposta de Jesus ao questionamento de um discípulo: 
- Mestre, onde você foi e o que fez quando nos deixou?
-  Eu fui para outra grande e santa geração. 
Com esse diálogo, ainda mais confirmado pelos textos que se seguiram no evangelho, Jesus quis enfatizar que esteve em outra dimensão, provavelmente em viagem extracorpórea, embora não tenha explicado a maneira pela qual se utilizou para estar em outro local dimensional. 
Voltando ao tema da traição a pedido, é encontrada em seu evangelho a passagem em que Judas comenta com Jesus sobre uma visão que teve mostrando o conceito ruim dos demais apóstolos para com ele em razão de seu ato de entregar Jesus aos Romanos: 
Na visão, eu vi como os doze discípulos estavam me apedrejando e perseguindo severamente (...) também fui para um lugar (...) vi uma casa (...) meus olhos não puderam compreender o seu tamanho... 
E Jesus lhe respondeu: 
Nenhuma pessoa de nascimento mortal é merecedora de entrar na casa que você viu. Aquele lugar é reservado para os santos (...) Você superará todos eles {os discípulos} Você sacrificarás o homem que me cobriu (...) Erga para cima seus olhos, veja a nuvem e a luz dentro dela e as estrelas que a cercam. A estrela que conduz é a sua estrela. Judas ergueu para cima os olhos e viu a nuvem luminosa (...) e ouviu uma voz vinda da nuvem... {o texto sobre voz foi perdido em virtude da deterioração do pergaminho} 
Como visto nos trechos citados, não se pode falar de traição de Judas, mas, sim, de cumprimento do que lhe fora pedido por Jesus e por planos espirituais superiores. 
Registro aqui que, intuitivamente, desde muito jovem, eu não via  Judas como traidor e, sim, como personagem importante de um cenário necessário. Por essa razão, ao conhecer as passagens do evangelho segundo Judas, não fiquei surpreso, apenas, senti grata confirmação daquilo que já vivenciava em meu íntimo desde criança. 
Desde a descoberta, em 1945, em Nag Hamadi, no alto Egito, dos evangelhos de Tomé e Maria Madalena, outros textos apócrifos têm sido difundidos ultimamente, gerando polêmicas sérias sobre o real enfoque espiritualista. Entre eles, destaco o de Maria Madalena, embora tida com prostituta, foi, em verdade, a discípula mais próxima de Jesus em todos os sentido, em especial, na captação de seus ensinamentos espirituais. 
Cito, a seguir, algumas passagens do evangelho segundo Maria Madalena que apresentam visões especiais sobre a espiritualidade ensinada pelo Mestre Jesus. 
É necessário viver em harmonia com todos, porque os seres estão interligados, cada um é importante componente do todo. Assim, Jesus disse: 
Todas as espécies, todas as formações, todas as criaturas estão unidas, elas dependem umas das outras, e se separarão novamente em sua própria origem. Pois a essência da matéria somente se separará de novo em sua própria essência... 
Os pecados (ações e sentimentos negativos), segundo Jesus, são criações do homem, levando-o a sair do equilíbrio, gerando, por conseqüência, doenças e morte. Sobre essa visão, tão comum atualmente entre os terapeutas holísticos, Jesus ensinou: 
Não há pecado; sois vós que os criais, quando fazeis coisas da mesma espécie que o adultério, que é chamado 'pecado'. Por isso Deus Pai veio para o meio de vós, para a essência de cada espécie, para conduzi-la a sua origem. Por isso adoeceis e morreis [...]. Aquele que compreende minhas palavras, que as coloque em prática. A matéria produziu uma paixão sem igual, que se originou de algo contrário à Natureza Divina. A partir daí, todo o corpo se desequilibra. Essa é a razão por que vos digo: tende coragem, e se estiverdes desanimados, procurais força das diferentes manifestações da natureza. Quem tem ouvidos para ouvir que ouça. 
Sobre a espiritualidade, Jesus foi claro em dizer que esta precisa ser buscada no interior de cada um, pois é no íntimo do ser que se encontra a presença divina, que precisa ser alcançada e vivida plenamente. Nesse sentido, Jesus falou, alertando para que não fosse ensinado nada diferente do que ele mostrou: 
Tomai cuidado para que ninguém vos afaste do caminho, dizendo: 'Por aqui' ou 'Por lá', pois o Filho do Homem está dentro de vós. Segui-o. Quem o procurar, o encontrará. Prossegui agora, então, pregai o Evangelho do Reino. Não estabeleçais outras regras, além das que vos mostrei, e não instituais como legislador, senão sereis cerceados por elas. 
No final da citação anterior, pode-se ver que Jesus alertou a seus discípulos, antevendo os fatos que acabariam dominando as religiões do futuro, que não ensinasse nada além do que havia sido mostrado por Ele. 
Com o mesmo enfoque de busca interior da espiritualidade, encontra-se uma passagem em outro evangelho apócrifo (segundo Tomé), através da qual Jesus ensinou: 
reino está dentro de vós e também em vosso exterior. Quando conseguirdes conhecer a vós mesmos, sereis conhecidos e compreendereis que sóis os filhos do Pai vivo. Mas se não vos conhecerdes, vivereis na pobreza e sereis a pobreza.  
Esses ensinamentos, encontrados no Evangelho de Maria Madalena e de Tomé, constituem-se, essencialmente, na base dos estudos difundidos pelos espiritualistas, que enfocam a necessidade de se buscar a evolução espiritual no interior de cada ser, procurando a presença divina e se tornando una com ela. 
Paralelamente à profunda mensagem espiritualista encontrada nos evangelhos citados, cujo conteúdo nem sempre é devidamente divulgado, outra questão tem ganhado relevância especial e até grande destaque na mídia: a ligação singular de Jesus e Maria Madalena; situação que ensejava até questionamentos entre os próprios discípulos como se vê na fala de Pedro, abaixo transcrita do evangelho segundo Madalena: 
Irmã, sabemos que o Salvador te amava mais do que qualquer outra mulher. Conta-nos as palavras do Salvador, as de que te lembras, aquelas que só tu sabes e nós nem ouvimos (..} Será que ele realmente conversou em particular com uma mulher e não abertamente conosco? Devemos mudar de opinião e ouvirmos ela? Ele a preferiu a nós? Então Maria Madalena se lamentou e disse a Pedro: Pedro, meu irmão, o que estás pensando? Achas que inventei tudo isso no meu coração ou que estou mentindo sobre o Salvador? 
Em face desse diálogo entre Pedro e Maria Madalena, Levi interviu: 
Pedro, sempre fostes exaltado. Agora te vejo competindo com uma mulher como adversário. Mas, se o Salvador a fez merecedora, quem és tu para rejeitá-la? Certamente o Salvador a conhece bem. Daí a ter amado mais do que a nós. É antes, o caso de nos envergonharmos e assumirmos o homem perfeito e nos separaremos, como Ele nos mandou, e pregarmos o Evangelho, não criando nenhuma regra ou lei, além das que o Salvador nos legou. 
Inegavelmente, a ligação de Jesus e Maria Madalena ia mais além, como se lê em outro evangelho apócrifo, o de Felipe, no seguinte trecho:  
E a companheira do Salvador é Maria Madalena. Cristo amava-a mais do que a todos os discípulos e costumava beijá-la com freqüência na boca. O resto dos discípulos ofendia-se com isso e expressava sua desaprovação. Diziam a ele: Porque tu amas mais do que a nós todos?  
Como observei anteriormente, o mais importante, a meu ver, sobre os evangelhos chamados apócrifos, é que eles vieram enfocar uma outra forma de viver a espiritualidade, desapegada de rituais e religiões, mas vivenciada no interior de cada um, com reflexo nos comportamentos externos, em todos os lugares, principalmente fora dos templos. Contudo, entendo justo ter chegado o momento para que seja revelado, também, o amor maravilhoso vivenciado por Jesus e Maria Madalena, que em nada os desvaloriza, mas que enfatiza a justa e bela forma de amar a dois, sem qualquer comprometimento de suas atividades espirituais; pelo contrário, contribuiu para a manifestação espiritual do amor incondicional por todos. 

Se as pessoas foram sabotadas pela história tradicional ao longo de dois mil anos, seja por ignorância ou interesses escusos, é tempo de abrir os olhos e ver a bela realidade, sorrindo, de uma história fascinante e revolucionária, que pode e certamente levará às pessoas a repensarem as suas vidas, as suas práticas religiosas e existenciais. “Quem tem ouvidos para ouvir que ouça” {fala de Jesus no evangelho segundo Maria Madalena}.  
Luz,  amor e verdade,abraços fraternos,
Moacir Sader


















O EVANGELHO SEGUNDO MARIA MADALENA
IMAGEM: Jesus Revealed to Mary Magdalene [Jesus Revelado a Maria Madalena], de Julius Schnorr von Carolsfeld's [1794-1872], ilustração do livro Die Bibel in Bildern [A Bíblia em Gravuras], de Julius Schnorr von Carolsfeld, [1794-1872].

Introdução

O Evangelho Segundo Maria Madalena é um dos inúmeros livros que integram a literatura judaico-cristã não reconhecida pelas Igrejas cristãs — Católica Romana [Ocidental], Cristã Ortodoxa [Oriental], Protestantes, Evangélicas. O conjunto dos livros que compõem esta literatura é geralmente conhecido como Evangelhos Apócrifos, embora inclua Epístolas dos Apóstolos, Apocalipses e textos que tratam de temas pré-cristãos, os Testamentos. Existem, por exemplo, Gênesis e Livro de Adão apócrifos.
Significado de Apócrifo: o termo apócrifo tem significado amplo embora, em princípio, sua origem seja o substantivo grego apókpryphon ou, segredosecreto. Em seu artigo A Outra Bíblia, Frei Jacir de Freitas Faria, Mestre em exegese [interpretação do texto]  bíblica, reúne as muitas definições agregadas ao termo ao longo da história:
- algo precioso e, por isso, mantido em segredo;
- texto não usado oficialmente na liturgia das primeiras comunidades cristãs;
- texto conservado escondido por ter conteúdo não aceito;
- texto de origem desconhecida;
- texto falso ou falsificado no conteúdo ou título.
- livros de uso restrito por leitores de uma determinada corrente de pensamento;
- textos não inspirados e, por isso, não canônicos;
- livros parecidos com os considerados canônicos, mas de estilos literários diversos;
- textos que complementam o conteúdo, o sentido dos escritos canônicos, isto é, os escritos considerados inspirados e que, por isso, fazem parte da Bíblia. Esses textos podem, até mesmo, oferecer dados esquecidos ou pontos de vistas diferenciados dos que permaneceram como oficiais.
A Igreja Católica simplifica a questão classificando todos os livros não incluídos na Bíblia canônica [aceita pelo Vaticano] como falsos ou, no mínimo, de conteúdo duvidoso. Sobre os Apócrifos, escre Freitas Faria, em outro artigo, Segredos de História e Fé:
Apócrifo deriva do grego apókpryphos. A definição mais conhecida para apócrifo é texto falso no conteúdo ou no título e que, por isso, não entrou na lista dos livros inspirados, na Bíblia. Os apócrifos seriam meras fantasias de piedosos cristãos. Na verdade, entre os primeiros cristãos circulavam muitos textos sobre a vida de Jesus e seus seguidores.

Fala-se em uma lista de 60 apócrifos do Novo Testamento (Segundo Testamento) e outros 52 do Antigo Testamento (Primeiro Testamento). Muitos deles foram parar na fogueira. O decreto Gelasiano (referente ao Papa Gelásio – falecido em 496) proibia a utilização desses livros pelos cristãos. ...

Não por menos, na coletânea dos livros apócrifos do Segundo Testamento encontramos, por exemplo: Evangelhos (de Maria Madalena, de Tomé, de Filipe, Árabe da Infância de Jesus, do Pseudo-Tomé, de Tiago, do Nascimento de Maria); Atos (de Pedro, de Tecla e Paulo, dos doze apóstolos, de Pilatos); Epístolas (de Pilatos a Herodes, de Pilatos a Tibério, dos apóstolos, de Pedro a Filipe, Paulo aos Laodicenses, Terceira epístola aos Coríntios); Apocalipses (de Tiago; de João, de Estevão, de Pedro); Outros (A filha de Pedro, Descida de Cristo aos Infernos, Declaração de José de Arimatéia). Os originais desses textos estão em grego, latim, siríaco, copto, etíope, etc. Muitos deles são apenas fragmentos. Os evangelhos de Maria Madalena e Tomé, em copto, foram descobertos no alto Egito, em Nag Hamadi, em 1945.

          

Histórico:
 O Evangelho de Maria Madalena pertence, mais precisamente, ao Codex Akhmin, também chamadoPapyrus Berolinensis 8502. Foi descoberto na cidade de Akhmin, Egito, em 1896, e adquirido, no Cairo, pelo pesquisador alemão Carl Reinhardt. Originalmente, ao que parece, tinha 19 páginas, em papiro, escrito em dialeto copta egípcio, datado, imprecisamente, entre os séculos III e V. O texto estava incompleto; faltam as páginas de 1 a 6 e de 11 a 14 [HOLLY BOOKS].

Foi publicado, pela primeira vez, em 1955. Mais tarde, entre 1897 e 1906, dois outros fragmentos deste evangelho foram encontrados, pelos ingleses: o egiptólogo Bernard Pyne Grenfell [1869-1926] e o papirólogo Arthur Surridge Hunt [1871-1934]. Escritos em grego, são denominados: o Papyrus Oxyhynchus L 3525 [fig. acima] e o Papyrus Rylands 463. A versão destes novos fragmentos, que complementam e confirmam o texto do Codex Akhmin, foi publicada em 1983.

As Três Marias do Evangelho
O texto que hoje é conhecido como Evangelho de Maria Madalena, tal como outros textos muito antigos, datados entre os séculos I a V da Era Cristã, foi escrito em papiro e muitas de suas partes se perderam; das 19 páginas, ao menos 8 se perderam. A autoria, de acordo com o que foi constatado nos originais, é atribuída, simplesmente, a Maria, sem uma identificação mais precisa da autora, o que suscita especulações: o Evangelho poderia ter sido escrito por Maria, mãe de Jesus ou, até mesmo por Maria de Betânia, irmã de Lázaro [aquele que ressuscitou e Marta.
Todavia, a exegese dos textos bíblicos leva a crer que Maria Madalena é a personagem que melhor se encaixa no perfil de uma mulher que, na época, poderia ter assumido um papel importante no processo de evangelização dos primeiros tempos do cristianismo, logo depois da morte de Jesus. Pequenos indícios em detalhes mínimos dos evangelhos sinóticos [da Bíblia] permitem supor que Maria Madalena, aquela de quem Jesus expulsou sete espíritos malignos, possuía uma situação privilegiada para as mulheres de seu tempo. Acredita-se que tinha posses, era independente e culta, ou seja, letrada além de ser bela e bem falante.

Maria Madalena
Na Introdução à Vida de Santa Maria Madalena, texto integrante da obra Vida de Santa Maria Madalena, de autor anônimo do Século XIV, produzido pelo Programa de Estudos Medievais da Universidade Federal do Rio de Janeiro, as autoras [tradutoras/comentadoras] assinalam as passagens bíblicas que revelam um pouco de quem foi Maria Madalena no contexto social da época de Cristo. Entretanto, a dimensão de Maria Madalena, sua importância, seu papel como discípula de Jesus, são melhor determinados nos outros evangelhos apócrifos, que foram acolhidos pelos Gnósticos:
Maria de Magdala, ou Maria Madalena, é a figura feminina mais citada no Novo Testamento - ainda mais que a Virgem. Além disso, é personagem importante na cena da ressurreição de Cristo.

No Evangelho segundo Mateus ela é mencionada diretamente duas vezes. Em Mt. 27,56, na cena da crucificação, é a primeira a ser nomeada entre as mulheres que acompanhavam Jesus desde a Galiléia, e em Mt. 28,1, no relato da ressurreição, ocasião em que Jesus aparece às mulheres e ordena que dêem a notícia aos apóstolos e que estes sigam até a Galiléia, é novamente lembrada em primeiro lugar: “Maria Madalena e a outra Maria foram ver o sepulcro”.

Marcos se refere a ela quatro vezes. Na cena da crucificação, em Mc. 15,40-41, ela é mais uma vez identificada como parte do grupo de mulheres que seguiam a Jesus desde a Galiléia e é citada, também, em primeiro lugar: “Estavam também ali algumas mulheres, observando de longe; entre elas Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, o menor, e de José, e Salomé”. Um pouco mais à frente, em Mc. 15,47, ela é apontada como testemunha do sepultamento:

“Ora, Maria Madalena, e Maria, mãe de José, observaram onde ele foi posto.” O relato da ressurreição segundo o Evangelho de Marcos é o que dá mais importância a Madalena. Ela é destacada duas vezes: em Mc. 16,1, ela aparece indo comprar aromas com outras mulheres para embalsamar Jesus; e em Mc. 16,9 afirma-se: “Havendo ele ressuscitado de manhã cedo no primeiro dia da semana, apareceu primeiro a Maria Madalena, da qual expelira sete demônios.”
O Evangelho segundo Lucas faz alusões diretas e indiretas a Maria Madalena. Em Lc. 8,2-3 ela é mencionada como uma das mulheres que seguiam a Jesus; dela “saíram sete demônios”; e, junto a outras mulheres, prestava assistência a Cristo com os seus bens. Em Lc. 23, nos relatos da morte e sepultamento de Jesus, ela figura como uma das discípulas que o acompanhavam desde a Galiléia, primeiro assistindo a crucificação e, depois, preparando aromas e bálsamos para ungir o corpo do mestre.

A partir desses dados bíblicos, podemos construir alguns aspectos de sua biografia: Maria Madalena era uma mulher de posses que vivia na cidade de Magdala; após uma experiência religiosa, tornou-se discípula de Jesus, acompanhando- o em suas viagens, junto a outros discípulos, homens e mulheres, e inclusive financiando-o.

Pela forma como é nomeada, é possível inferir que possuía uma situação familiar incomum em seu tempo. Diferentemente de outras mulheres das Escrituras, ela é identificada por seu lugar de origem ao invés da referência a um homem, forma de designação mais usada para as mulheres neste momento. Sendo Maria relacionada somente à sua cidade, Magdala, aliás, de onde deriva o nome Madalena, é provável que ela fosse uma mulher solteira e independente.

O gnosticismo foi uma doutrina que inspirou a formação de um conjunto de seitas cristãs - condenadas pela Igreja como heterodoxas - sobretudo nos três primeiros séculos de nossa era. ...

Os gnósticos fixaram suas tradições sobre Cristo e os apóstolos em vários evangelhos apócrifos redigidos, em sua maioria, entre os séculos II e IV. Madalena figura nesses textos com freqüência, pois era vista como a encarnação da sabedoria celeste e como companheira de Jesus. Em todos estes escritos, ela é tida como o modelo de gnóstico perfeito, na medida em que se eleva ao ápice da visão e do amor espiritual.
IN Pem - Programa de Estudos Medievais | Universidade Federal do Rio de Janeiro — Instituto de Filosofia e Ciências Sociais
Vida de Santa Maria Madalena - Texto Anônimo do Século XIV. [Intodução, trad. e notas: LOPES FRAZÃO DA SILVA, Andréia Cristina, FORTES, Carolina Coelho et. al.] 
— Rio de janeiro: Ed. Márcia Cristina Martins | Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2002.
No Evangelho de Felipe, Madalena é apresentada como companheira de Cristo; no Evangelho de Tomé, é a consorte do Senhor e sua interlocutora mais importante e na Pistis Sophia, tratado gnóstico do século III, a maior parte das perguntas é feita por Maria Madalena.
O texto do Evangelho de Maria Madalena, apesar de extremamente fragmentado, guarda semelhança com outros apócrifos no sentido de abordar temas complexos da espiritualidade que são evitados nos quatro evangelhos canônicos. O capítulo VIII fala, ainda que de forma alegórica, da essência da alma, que ali é chamada devoradora de homensconquistadora do espaço.


O EVANGELHO SEGUNDO MARIA MADALENA — trechos
Capítulo IV  O Salvador disse: "Todas as espécies, todas as formações, todas as criaturas estão unidas, elas dependem umas das outras, e se separarão novamente em sua própria origem. Pois a essência da matéria somente se separará de novo em sua própria essência. Quem tem ouvidos para ouvir que ouça".

Pedro lhe disse: "Já que nos explicaste tudo, dize-nos isso também: o que é o pecado do mundo?" Jesus disse: "Não há pecado; sois vós que os criais, quando fazeis coisas da mesma espécie que o adultério, que é chamado 'pecado'. Por isso Deus Pai veio para o meio de vós, para a essência de cada espécie, para conduzi-la a sua origem."

Em seguida disse: "Por isso adoeceis e morreis [...]. Aquele que compreende minhas palavras, que as coloque-as em prática. A matéria produziu uma paixão sem igual, que se originou de algo contrário à Natureza Divina. A partir daí, todo o corpo se desequilibra. Essa é a razão por que vos digo: tende coragem, e se estiverdes desanimados, procurais força das diferentes manifestações da natureza. Quem tem ouvidos para ouvir que ouça."
Quando o Filho de Deus assim falou, saudou a todos dizendo: "A Paz esteja convosco. Recebei minha paz. Tomai cuidado para ninguém vos afaste do caminho, dizendo: 'Por aqui' ou 'Por lá', Pois o Filho do Homem está dentro de vós. Segui-o. Quem o procurar, o encontrará. Prossegui agora, então, pregai o Evangelho do Reino. Não estabeleçais outras regras, além das que vos mostrei, e não instituais como legislador, senão sereis cerceados por elas". Após dizer tudo isto partiu.

Capítulo V — Mas eles estavam profundamente tristes. E falavam: "Como vamos pregar aos gentios o Evangelho ao Reino do Filho do Homem? Se eles não o procuraram, vão poupar a nós?" Maria Madalena se levantou, cumprimentou a todos e disse a seus irmãos: "Não vos lamentais nem sofrais, nem hesiteis, pois sua graça estará inteiramente convosco e vos protegerá. Antes, louvemos sua grandeza, pois Ele nos preparou e nos fez homens".

Após Maria ter dito isso, eles entregaram seus corações a Deus e começaram a conversar sobre as palavras do Salvador. Pedro disse a Maria: "Irmã, sabemos que o Salvador te amava mais do que qualquer outra mulher. Conta-nos as palavras do Salvador, as de que te lembras, aquelas que só tu sabes e nós nem ouvimos."

Maria Madalena respondeu dizendo: "Esclarecerei a vós o que está oculto". E ela começou a falar essas palavras: "Eu", disse ela, "eu tive uma visão do Senhor e contei a Ele: 'Mestre, apareceste-me hoje numa visão'. Ele respondeu e me disse: 'Bem aventurada sejas, por não teres fraquejado ao me ver. Pois, onde está a mente há um tesouro'. Eu lhe disse: 'Mestre, aquele que tem uma visão vê com a alma ou como espírito?' Jesus respondeu e disse: "Não vê nem com a alma nem com o espírito, mas com a consciência, que está entre ambos - assim é que tem a visão [...]".

Capítulo VIII — E o desejo disse à alma: 'Não te vi descer, mas agora te vejo subir. Por que falas mentira, já que pertences a mim?' A alma respondeu e disse:'Eu te vi. Não me viste, nem me reconheceste. Usaste-me como acessório e não me reconheceste.' Depois de dizer isso, a alma foi embora, exultante de alegria. "De novo alcançou a terceira potência, chamada ignorância. A potência, inquiriu a alma dizendo: 'Onde vais? Estás aprisionada à maldade. Estás aprisionada, não julgues!'

E a alma disse: 'Por que me julgaste apesar de eu não haver julgado? Eu estava aprisionada; no entanto, não aprisionei. Não fui reconhecida que o Todo se está desfazendo, tanto as coisas terrenas quanto as celestiais.' "Quando a alma venceu a terceira potência, subiu e viu a quarta potência, que assumiu sete formas. A primeira forma, trevas; a segunda, desejo; a terceira, ignorância; a quarta, é a comoção da morte; a quinta, é o reino da carne; a sexta, é a vã sabedoria da carne; a sétima, a sabedoria irada. Essas são as sete potências da ira.

Elas perguntaram à alma: 'De onde vens, devoradora de homens, ou onde vais, conquistadora do espaço?' A alma respondeu dizendo: 'O que me subjugava foi eliminado e o que me fazia voltar foi derrotado... e meu desejo foi consumido e a ignorância morreu. Num mundo fui libertada de outro mundo; num tipo fui libertada de um tipo celestial e também dos grilhões do esquecimento, que são transitórios. Daqui em diante, alcançarei em silêncio o final do tempo propício, do reino eterno'."
 

Capítulo IX — Depois de ter dito isso, Maria Madalena se calou, pois até aqui o Salvador lhe tinha falado. Mas André respondeu e disse aos irmãos:"Dizei o que tendes para dizer sobre o que ela falou. Eu, de minha parte, não acredito que o Salvador tenha dito isso. Pois esses ensinamentos carregam idéias estranhas". Pedro respondeu e falou sobre as mesmas coisas.

Ele os inquiriu sobre o Salvador:"Será que ele realmente conversou em particular com uma mulher e não abertamente conosco? Devemos mudar de opinião e ouvirmos ela? Ele a preferiu a nós?" Então Maria Madalena se lamentou e disse a Pedro: "Pedro, meu irmão, o que estás pensando? Achas que inventei tudo isso no mau coração ou que estou mentindo sobre o Salvador?"

Levi respondeu a Pedro: "Pedro, sempre fostes exaltado. Agora te vejo competindo com uma mulher como adversário. Mas, se o Salvador a fez merecedora, quem és tu para rejeitá-la? Certamente o Salvador a conhece bem. Daí a ter amado mais do que a nós. É antes, o caso de nos envergonharmos e assumirmos o homem perfeito e nos separaremos, como Ele nos mandou, e pregarmos o Evangelho, não criando nenhuma regra ou lei, além das que o Salvador nos legou." Depois que Levi disse essas palavras, eles começaram a sair para anunciar e pregar.
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